Embora o amor verdadeiro seja um desejo universal, encontrar pessoas que se dediquem a ele com total entrega pode ser desafiador.
O crescimento do egoísmo é assustador. E, sem a segurança que só o amor traz, as relações tendem a ser cada dia mais sexuais e menos afetivas.
💡 Para alguns homens, a busca inquieta pela conquista toma o lugar da estabilidade na relação. O grande objeto do desejo é a conquista, e não o conquistado.
Para aquele que seduz, a concretização da conquista se transforma em monotonia, e, dessa forma, as relações são rápidas e sem nenhum vínculo afetivo.
Quando esse comportamento se torna cíclico ou habitual – em que a pessoa sente excitação na conquista, seguida por desinteresse e necessidade de buscar novas parceiras –, referimo-nos à Síndrome de Don Juan ou dom-juanismo (também chamado de "doença do Caetano"), caracterizado como um transtorno afetivo.
Segundo Jung, os efeitos do complexo materno, a princípio positivos, podem gerar distúrbios psíquicos, como a homossexualidade, a impotência sexual e o Don Juanismo.
Na homossexualidade, por exemplo, a heterossexualidade do filho fica presa à mãe de forma inconsciente. Já no Don Juanismo, a imagem da mãe é a da mulher perfeita, que não possui defeitos e que está sempre de prontidão para atender aos desejos do homem.
Essa figura materna, fortemente registrada na psique do homem, interfere toda vez que ele se apaixona por uma mulher e se sente atraído sexualmente por ela até realizar a conquista.
💠 A conquista é o “lugar” onde acontece a comparação, e toda a paixão desaparece repentinamente, deixando a relação vazia e desinteressante. Nesse caso, ele interrompe a relação. Não consegue firmar laços duradouros porque busca a perfeição em todas as mulheres, acabando por encontrar defeitos em todas. Na verdade, esse tipo de personalidade está sempre procurando a imagem da mãe nas outras mulheres (às vezes, a relação com a mãe foi boa demais, gerando dificuldade de quebra de vínculo no inconsciente).
No entanto, além da avaliação de Jung, outros fatores são observados no comportamento daqueles que apresentam o Don Juanismo – que não afeta somente homens, mas também mulheres (Don Juanismo feminino ou ninfomania).
A influência da dinâmica familiar, traumas na infância, crenças limitantes e até fatores biológicos podem contribuir para o desenvolvimento da síndrome.
O complexo de rejeição, por exemplo, é uma das características que traz consigo o medo de abandono.
Muitos homens maduros e inteligentes, por vezes já estabelecidos profissionalmente, têm dificuldade em se entregar completamente ao amor de uma única mulher devido ao medo inconsciente do abandono. Por isso, tendem a focar apenas na conquista, receosos do envolvimento emocional genuíno e do possível sofrimento que uma relação comprometida possa trazer.
Nesse contexto, a conquista se torna emocionante e cativante, mas a concretização dela acaba sendo frustrante e monótona, pois implica estabelecer um vínculo, assumir responsabilidades e encarar novas "obrigações", o que gera desconforto. Assim, para esses homens, abandonar o que foi conquistado para iniciar uma nova conquista representa liberdade e desapego.
O Don Juanismo pode surgir no comportamento como uma resposta ao complexo de rejeição, causado pelo abandono paterno ou materno. O receio de se decepcionar novamente emocionalmente leva a pessoa a se afastar do comprometimento no amor, como forma de evitar mais dor.
Outro fator estimulador do comportamento conquistador é o abuso sexual na infância, embora algumas correntes da psicologia ou psiquiatria não concordem que possa haver essa ligação.
Ainda há situações em que a sensação de um amor não resolvido com alguém no passado leva a pessoa a procurar desesperadamente, em relacionamentos futuros, vestígios daquela que deixou uma marca profunda e única. Esse sentimento impossibilita a experiência de um novo amor. Isso leva a manter uma imagem de conquistador para preservar o ego; porém, devido à comparação constante, nenhuma outra pessoa consegue preencher verdadeiramente o vazio deixado pela memória. É crucial aprender a distinguir quando buscamos uma ilusão criada pela nossa mente.
👉 A pessoa que apresenta esse tipo de comportamento do Don Juanismo sofre, pois se vê incapaz de criar vínculos relacionais. Além disso, a causa ou o motivo pelo qual vivencia esse comportamento não lhe são claros, e a sensação interior é de um grande vazio no coração por não conseguir viver em profundidade nenhuma relação.
Tratar a causa pela raiz é a maneira de encontrar pacificação e coragem para amar em paz e com responsabilidade.
💡O Don Juanismo não é sobre "amor pelo jogo", mas sobre fuga de si mesmo. A cura está em substituir a busca externa por validação, por uma jornada interna de autocompaixão e aceitação. Como escreveu Clarice Lispector:
"Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome."
Ana D´Araújo
Características do Comportamento Don Juanista
🔄 Ciclo de Conquista-Abandono:
Fase da sedução: Intensa paixão, charme e investimento emocional.
Concretização: Perda de interesse assim que o relacionamento se estabiliza.
Repetição: Busca por novos parceiros para reexperimentar a emoção da conquista.
Medo de Intimidade: Evita vulnerabilidade emocional, mantendo relações superficiais.
Idealização e Desilusão: Compara parceiros a uma imagem internalizada (ex.: figura materna idealizada) e os rejeita por "imperfeições".
Vazio Existencial: Apesar do sucesso nas conquistas, há uma sensação crônica de insatisfação e solidão.
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